segunda-feira, 25 de junho de 2018

Certa vez ouvi numa mesa de buteco em campina grande, uma poesia declamada por um dos "Pé inchado" que alisava tamborete no balcao do buteco:


O PEIDO QUE A VÉIA DEU.

A véia tinha comido
na gamela do jumento,
arroz, feijao e linguiça,
pimenta e peba dormido,
foi tao grande o estampido,
que se ouviu no pajeú,
o peido que véia deu,
quase nao coube no cú!
Há muito tempo, na faculdade de direito da UEPB em Campina Grande, um amigo relatou-me que seu avô ganhara certa vez, um jerimum de seu compadre e amigo, e que ao cozinha-lo, viu que o regalo era tão ruim que só servia pra dar pros porcos, então resolveu fazer uma pequena poesia em homenagem ao presente de seu amigo:

O JERIMUM DO LUCAS.


Lucas deu-me um jerimum
desses de ponta de rama,
era mole que nem lama,
tinha água que nem coco,
cresceu em cima dum toco,
no sopé daquela serra,
fui o jerimum mais ruim,
q`eu  vi na face da terra!

terça-feira, 12 de junho de 2018




A cacimba (cordel de Zé da Luz)




Tá vendo aquela cacimba
Lá na bêra do riacho,
Im riba da ribancêra,
Qui fica, assim, pru dibaxo
De um pé de tamarinêra?



Pois, um magote de môça
Quage toda menhanzinha,
Foima, assim, aquela tuia,
Na bêra da cacimbinha
Tomando banho de cuia!


Eu não sei pru quê razão,
As águas dessa nacente,
As águas qui alí se vê,
Tem um gosto deferente
Das cacimba de bêbê…


As águas da cacimbinha
Tem um gôsto mais mió.
Nem sargada, nem insôça…
Tem um gostim do suó
Dos suvaco déssas môça…


Quando eu vejo essa cacimba,
Qui inspio a minha cara
naquelas águas quilara,
Pego logo a desejá…


…Desejo, pra que negá?
Desejo ser um caçote,
Cum dois óio desse tamanho!
Pra vê, aquele magóte
De môça tumando banho!

segunda-feira, 11 de junho de 2018

MORREU MARIA PREÁ!
(Cordel atribuido a Itanildo Medeiros.)
Morreu Maria Preá!!!  
Esse ditado famoso 
eu comecei pesquisar 
porque fiquei curioso.
Depois de revirar tudo
descobri com muito estudo
e pergunta em banda de lata,
que um padre num interior
 tinha um chamego, um amor,
 um caso com uma beata.
Bonita e muito formosa
Maria Preá é o seu nome
essa beata fogosa
do padre tirava a fome,
e sempre que ele podia
com ela ele se escondia
pra poderem se agarrar
Mas um dia o sacristão
flagrou os dois num colchão
o padre e Maria Preá.
E depois dessa orgia
o padre perdeu o sossego
O sacristão todo dia
alegava esse chamego
chantageava o vigário
fazia ele de otário
ameaçando contar
Deixava o padre com medo
que vazasse esse segredo
dele e Maria Preá.
Sem saber o que fizesse
com o sacristão lhe explorando
pois tudo que ele quisesse
o padre ia logo dando
com medo que a cidade
descobrindo essa verdade
ficasse escandalizada
pediu a Deus uma luz
pra lhe tirar dessa cruz
dessa exploração cerrada
Até que um dia o vigário
viajou pra ali pertinho
Foi rezar um novenárion
um município vizinho
Esqueceu de um documento
e notando o esquecimento
parou no meio da estrada
deu meia volta e voltou
mas quando em casa chegou
Ah, que surpresa danada!
O padre entrando apressado
na casa paroquial
viu o sacristão curvado
em decúbito dorsal
nu da cintura pra baixo
por trás dele um outro macho
numa movimentação
que o padre, vendo notava
que o rapaz atolava
as fezes do sacristão.
Assistindo aquela cena
mas lembrando do passado
o padre ficou com pena
e também aliviado
Mas, mesmo com a vergonha
daquela cena medonha
o padre gritou de lá:
- Sacristão, se oriente, 
pois, pra nós, daqui pra frente,
morreu Maria Preá!!!

domingo, 20 de maio de 2018

PRA TUDO PRECISA PEITO   (Zé Laurentino)


Tem um ditado seu moço,
que eu acho muito perfeito,
pois é aquele que diz,
pra tudo precisa peito,
para fazer poesia,
pra começar um estudo,
pro vaqueiro entrar no mato,
topando espinho agudo,
para a gente paquerar,
pra pedir moça e casar,
é preciso ser peitudo.
Pro homem ser candidato
a deputado, ou prefeito,
pra ele falar ao povo
é necessário ter peito,
senão ninguém acredita,
e a moça pra ser bonita
também precisa ter "jeito".
Do jeito que tá a época
a concorrência é ditada,
se o homem não tiver feito
nunca vai conseguir nada.
O Brasil perdeu um hexa,
um argumento eu aceito,
não foi por falta de classe,
mas foi por falta de peito.
Um dia participei
de uma competição,
ali seria julgada
a melhor declamação,
declamei até direito,
mas como não tive peito,
foi uma decepção,
pois uma moça tambem
concorria do meu lado,
ela com um vestido largo
e muito bem decotado,
foi ai que me faltou peito,
perdi a competição,
e a moça com muito peito
conquistou a comissão,
composta só de marmanjo,
nunca vi um homem anjo,
por isso me dê razão.
A moça foi aplaudida,
eu fiquei muito sem jeito,
um senhor olhou e disse
você declamou direito,
tem bom jeito e boa voz,
no entanto aqui pra nós,
a moça teve mais peito!




quarta-feira, 9 de abril de 2014

Eita, o ônibus partiu, ou partiu-se?

Lá no interior da Paraiba todo mundo é conhecido por apelido: é Zé de Sebastião, Mané de Ritinha, João de Nenzinha etc.  Nosso primo, Nô de Maltides Leite, (in memoria), como era de se esperar, não fugia à regra, ganhara esse apelido desde rapaz jovem. Sempre de bom humor tinha uma presença de espírito que lhe rende até hoje inúmeras piadas e histórias.
Certo dia, estava Seu Nô como também era conhecido, sentado em sua cadeira de balanço à sombra da calçada de sua casa, quando foi interpelado por um transeunte que julgava estar atrasado para tomar o ônibus que saía de Conceição para João Pessoa naquele fim de tarde:
- Seu Nô, o senhor viu se o ônibus partiu?
Em cima da bucha Nô respondeu:
- Se partiu foi depois da esquina de João Panta, porque aqui ele passou inteiro!

traquinagem ou malinagem?

No reino da traquinagem eu, quando criança, não era nenhum Papa, mas também não era nenhum Diácono, sem falsa modéstia era um Arcebispo ou talvez um Cardeal. O fato é que não quero reivindicar nenhum título eclesiástico, nem tampouco de saltimbanco serelepe. Pois bem, trocando em miúdos, quando pirralho todo mundo faz suas estripulias, uns mais outros menos etc. e comigo não foi diferente, que pra começo de prosa, certo dia em frente ao comércio do meu pai, uma mistura de bar, lanchonete, sorveteria, agência de passagens de ônibus para São Paulo e Brasilia e posto de gasolina (onde se vendia gasolina em latas de flandre de 20 litros), eu arquitetei um mirabolante plano de pegadinha aos meninos do meu tope, que consistia em amarrar uma cédula um mil reis  - aquelas azuis, com a esfinge do almirante tamandaré no centro da face interna da nota - à ponta de uma linha de carretel, onde na outra extremidade eu ficava escondido atrás da porta do comércio.
Tal qual não foi a minha surpresa, um compadre de meu pai que em respeito à família e memória do mesmo omito aqui seu nome, passava no momento em que eu acabara de lançar a cédula ao chão. Era um sujeito grandalhão e buchudo com certa dificuldade de mobilidade, e ao ver a nota do dinheiro dando sopa na calçada olhou para um lado e para o outro, disfarçou, e com um pequeno sacrifício se abaixou para apanhar a nota. Eu instantaneamente puxei a linha, e ele achando que o vento estava carregando a nota se apressou em pegá-la correndo atrás dela em posição de cata cavaco, novamente puxei a linha... e foi, e foi até que esbarrou na porta do bar, momento em que eu disparei uma gargalhada por trás da porta. De repente um puxão na porta e aparece aquela figura ciclópica  bem na minha frente: "seu moleque, eu vou contar pro meu compadre, o seu pai!
Naquele instante eu não sabia se me cagava de medo, ou se me mijava de tanto rir...
     

A beata e a coruja

Era meados de setembro lá pra's bandas de Ibiara, um lugarejo perdido nos confins da Paraíba,  um dia daqueles quente e seco, em que o redemoinho de poeira enchia as casas de pó, deixando as mercadorias das prateleiras das bodegas cobertas com uma fuligem amarronzada. Embora houvesse ventania durante todo dia, mas não era capaz de amenizar o calor abafado da época, o que fazia com que uma maloca de desocupados permanecessem até mais tarde na praça, aguardando com uma meiota de cachaça, o limiar da madrugada, quando o tempo invariavelmente se tornava mais fresco, convidando a dormir.
Maria Romã, uma velha beata viúva, morava numa simples casa, de porta e duas janelas na fachada, na mesma rua da igreja. Era religiosa a tal ponto de se guiar para a missa, pelas batidas do campanário.  Certa noite, segundo os maloqueiros contumazes da praça, já era madrugada quando uma coruja rasga-mortalha que morava na torre da igreja, voltava de suas incursões noturnas e esbarrou nas cordas dos sinos, fazendo com que soasse pela praça e ruas adjacentes o velho e conhecido tom. A velha beata não titubeou nem resmungou da hora, mais que depressa vestiu sua bata e faixa do apostolado da oração, muniu-se de um terço e do folheto da santa missa, cobriu a cabeça com um véu de renda preta e desceu a ladeira rumo à igreja. Para sua surpresa, após subir os degraus do patamar, encontrou a porta fechada, momento em que resmungou em tom de desabafo: "ora mais tá, esse padre dorminhoco manda tocar o sino quando nem ele ainda acordou..."

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

EU, A CAMA E NOBELINA

A irreverência é a marca consagrada desse poeta Zé Laurentino.


Seu moço vou lhe contar


uma historia pequenina,

historia de um casamento

que tive com a Nobelina.



Nobelina, meu patrão

morava parede e meia

no sítio donde eu morava

não era lá muito feia,

também não era bonita,

mais tinha o corpo roliço

e os óios da mulata

parecia ter feitiço.



O corpo de Nobelina

endoidava qualquer macho

pois era fino no meio

porém muito grosso embaixo

a cintura da muié

era uma tentação

parecia inté que tinha

sido feita com a mão.



Para o nosso casamento

eu tinha feito um estudo,

a nossa casa pequena

mais tava pronta de tudo

desde a cama, o principal

ao troço mais miúdo.



Todo dia ao meio dia

eu encostava a enxada

mode feliz contemplar

nossa futura morada.



Em meio à mata serena

a casinha era pequena

mais tava bem arrumada

com cinco ou seis tamboretes

uma mesa, um petisqueiro,

uma banca, uma quartinha,

quengo, prato, candeeiro

e um coração de Jesus

de olhinhos bem azuis

que eu comprei no Juazeiro.



E oiava aqueles troços

que nem quem assiste um drama

pois tudo fica bonito

no tempo que a gente ama

mais entre os troços, patrão

um me prendia a atenção

era a danada da cama.



Eita troço abençoado,

de qualquer uma invenção

que o homi fez até hoje,

gravador, televisão,

telefone e telegrama,

pois quem inventou a cama

pra’ mim é o campeão.



Cama é o único objeto

que nunca causa acidente

da queda de uma cama

nunca vi ninguém doente.



Cama é sempre uma cama

seja ela fraca ou cara

cama de couro de boi,

ou cama feita de vara.

Cama coberta de linho,

cama coberta de esteira,

a cama silenciosa

e a cama estaladeira.



Cama que guarda segredo

por isso eu lhe quero bem

porque ela assiste a tudo

sem dizer nada a ninguém.



Quando eu estou doente

a cama é quem me socorre

na cama eu curo a ressaca

depois de um dia de porre

e nela a ressaca vai-se,

é na cama que se nasce,

é na cama que se morre.



De toda música do mundo

eu lhe digo sem fofoca

para mim a mais bonita

é a música que a cama toca.



Aquele seu rangidinho

só rangido de porteira

faz a gente adormecer

nos braços da companheira.



Nem os baiões de Gonzaga,

nem o acordeon de Noca

toca musica mais bonita

do que o que a cama toca.



Mais eu vou deixar a cama

minha companheira alpina

pra’ falar do casamento

que eu tive com a Nobelina.



Tudo pronto, tudo certo

casei-me com a morena

passado uns cinco ou seis meses

nós fomos pra’ uma novena

e a novena era na casa

de seu Antonio Sibiu

por motivo da chegada

de um seu filho Dario

que há quatro ou cinco dias

tinha chegado do Rio.



Quando nós chegamos lá

já tinha gente demais

a novena era do santo

mais veja o que o povo faz

em vez de falar do santo

só falava no rapaz.



Mais como ele tá gordo,

como ele voltou bonito

era a conversa das moças

mas achei muito esquisito

só porque a Nobelina

ao falar com o rapaz

sustentou na sua mão

que quase não solta mais.



Eu fiz que não tava vendo

fui beber no botequim

dei uma cordinha a ela

porque muié é assim,

quando tá com a corda toda

mostra se é boa ou ruim.



E quando eu voltei, seu moço

já fui vendo o carioca

grudado com a Nobelina

e os dois numa fofoca

que uma cachorrada daquela

só vi na casa de Noca.



A essa altura, patrão

me deu sono pra’ dormir

fui convidar Nobelina

porém ela não quis ir

tive que voltar sozinho,

sozinho na madrugada

e nessa noite doutor,

a cama não tocou nada.



Mais não tem nada seu moço,

eu não vou lamentar, pois

Nobelina foi-se embora

eu arranjo outra depois,

quem é forte não reclama

mesmo porque minha cama

só sabe tocar com dois.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Político brasileiro na China...

Braulio Tavares glozando a poesia:
...Lá na China corruto é fuzilado
e a família inda paga a munição!


Vou-me embora morar na velha China

que tem lá seus defeitos, tudo bem,

mas o nosso defeito ela não tem:

dar guarida a quem vive da rapina.

Deputado que lá ganha propina

pagará com a vida a corrução!

Lá na China político ladrão

bem depressa vai preso e condenado…

Lá na China corruto é fuzilado

e a família inda paga a munição!

Desde o tempo das velhas dinastias

toda vez que um político roubava

na melhor das hipóteses ficava

na prisão pelo resto dos seus dias.

Liminares, renúncias, anistias…

nada disso na China é solução!

O remédio é fuzil e pelotão

e um apito na boca dum soldado…

Lá na China corruto é fuzilado

e a família inda paga a munição!

Se um ministro chinês é desonesto

e é pilhado fazendo trambicagem,

a Justiça deslancha a engrenagem

que liquida a questão sem deixar resto.

Doze balas é um preço bem modesto

e o país nunca perde um só tostão

debita na conta do finado…

Lá na China corruto é fuzilado

e a família inda paga a munição!



O casamento de Vicença

Há quem diga que esse cordel é de autoria de Zé Laurentino, cujo título é "O casamento de Vicença", há porem, outros que dizem ser de autoria de Luiz Campos, com o título "Me enganei com minha noiva".

Quando solteiro eu vivia


Era o maior aperreio,

Devido ser muito feio

As moça não me queria.

Quando pr’um forró eu ia

Com qualquer colega meu,

Eles confiava neu

Ia beber e brincar

No fim da festa ia arengar

Quem ia preso era eu.



E pra arranjar namoro

Eu toda via fui mole.

Eu cantei samba, puxei fole,

Usei um cabelo louro,

A boca cheia de ouro,

Chega brilhava de dia.

Quando pr’um forró eu ia

Cheirava que nem uma rosa,

Mas, se eu caçava umas prosa,

As moça não me queria.



Aí eu dizia: “É catimbó

Que alguém botou, mas não sai,

Que mamãe casou com papai,

Vovô casou com vovó,

Inté meu irmão Chicó,

Que é muito mais feio que eu,

Namorou, casou, viveu

Com duas mulher, inté,

Só eu não acho muié

Que queira se esfregar neu.



Um dia Deus descuidou-se,

O satanás se esqueceu,

Que Vicença olhou pra eu

Com uns oião de bico dôce,

Nossos ói se amisturou-se

Como feijão com arroz,

Se abufelemo nós dois

Num amor tão violento

Que marquemo o casamento

Pra quatro dias depois.



No dia de se amarrar,

Se arrumou, eu e ela.

Dei de garra na mão dela

E fui pra igreja casar.

Cheguei no pés do altar,

Recebi a santa bença,

Jurei não ter desavença

Entre eu e minha esposa,

O padre disse umas côsa

E fui viver com Vicença.



Cheguei em casa mais ela,

Fui logo me agasalhando

Que mermo que eu ia pensando

Que ia dormir na costela.

Vicença fez a novela

Por dentro da camarinha,

Quebrou uns troçim que eu tinha,

Me ameaçou na bala.

Ela foi dormir na sala

Eu fui dormir nca cozinha.



Da vida perdi o gosto

Porque Vicença fez isso.

De manhã fui pro serviço,

Mas pra morrer de desgosto.

Cheguei em casa, o sol posto,

Vicença me arrecebeu,

Inté um café freveu,

Botou pra nós dois cear,

Mas, quando foi se deitar,

Nem sequer olhou pra eu.



De Deus perdi a crença,

De nome chamei uns trinta,

Botei uma faca na cinta,

E fui conversar com Vicença.

Vicença deu uma doença

Quando falei em amor,

Aí ela me perguntou:

“Cê pensa que eu sou o que?

Eu me casei com você

Pra lhe fazer um favor”.



Bati com ela no chão,

Puxei a lapa de faca,

Cortei o cóis da casaca

E o elástico do calção.

Vicença tinha razão

De não querer bem a eu.

Não era com nojo deu,

Ou porque não fosse séria,

Sabe Vicença quem era,

Era macho que nem eu.



Eu muito me arrependi

Porque me casei com ela.

Falei logo com o pai dela

E de manhã devolvi.

Muito desgosto eu senti,

Que quase morri inté,

Homem em trajo de muié

Tem muito de mundo afora,

Só caso com outra agora

Logo sabendo quem é.

domingo, 10 de outubro de 2010

Aos violeiros e repentistas

O meu amigo Tião Feitosa foi quem me contou que certa vez numa cantoria de viola em São José do Egito/PE, foi dado um mote ao Ivanildo Vilanova, um expoente no repente do nordeste, que saiu com essa pérola:
 
O sertão prá mim só é belo
de Brejinho a Arco Verde,
quando chega o mato verde
matando o mato amarelo,
quando a nuvem faz castelo
na floresta alcatifada,
o trovão bota a mesa
a chuva paga a despesa,
o sertão só tem beleza 
quando a terra tá molhada 
 
 
 

sábado, 9 de outubro de 2010

Um repentista agradece a Ronaldo Cunha Lima

Pelos idos de 1985, presenciei um fato pitoresco em Campina Grande, quando um repentista teve sua arma apreendida numa operação policial que se desenvolvia  no posto da PRF em Queimadas/PB. A arma desacompanhada de registro e porte fora encaminhada à Policia Federal naquela cidade. Ronaldo Cunha Lima, prefeito de Campina à  época, solidarizou-se com o repentista e dirigiu-se na companhia deste até a delegacia para requerer a devolução da arma, apresentando na ocasião os documentos necessarios. Feita a devolução, o repentista agradeceu ao prefeito num verso agalopado, dizendo o seguinte:
Dr. Ronaldo,

Se eu mandasse nas terras da Paraíba,
emendava Campina a Joao Pessoa,
aterrava o buraco da lagoa
e nela plantava hortaliças,
semeava arroz, feijão e cana,
que alimenta o povo e muda o clima
Buriti saía correndo do Palácio
e entregava o governo a Ronaldo Cunha Lima...

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Zé limeira canta para o Gov. Agamenon Magalhães

Conta Orlando Tejo, em seu livro, Zé Limeira – O poeta do absurdo:

“Certa vez, recepcionando visitantes ilustres, o Governador Agamenon Magalhães promoveu um encontro de repentistas em Palácio (a exemplo do que costumava fazer na Paraíba o Presidente João Suassuna, na década de 20), com a participação, entre outros, de Agostinho Lopes dos Santos, José Vicente da Paraíba e os Irmãos Batista...
... Alguns segundos e abre-se uma porta por onde passa o Poeta do Absurdo. Coloca o matulão e a viola sobre o piano, e, reatando o nó de grande lenço encarnado que envolve o pescoço: — Esse aqui não é ninguém não, minha gente, é somente Zé Limeira velho falado. Vim cantá pro Doutor! Cantador pra cantá pro Doutor Agamenon é preciso ter foigo de sete gato! O estadista externou seu prazer em receber mais um poeta paraibano:

— Poeta, esta é minha mulher que, como eu, sente-se imensamente feliz em tê-lo em nossa casa. Limeira aperta a mão da Primeira Dama e expressa-se, à sua maneira espontânea:

— De feição, parece muito com a minha patroa, sendo que ela é pobre do pé da serra e a senhora é uma madama rica da capital!
Àquela altura, todos os presentes já se tomavam de simpatia pelo repentista que fazia questão de cantar para o casal Agamenon Magalhães. Sua participação no torneio já estava sendo uma exigência principalmente de Dona Antonieta. O Poeta do Absurdo escolheu para seu parceiro Otacílio Batista (que, por sinal, foi quem me contou esta história), e os dois passaram a improvisar em martelo agalopado. Otacílio, de acordo com o figurino, fez o tradicional "brinde à dona da casa", fechando assim a estrofe:"

"... E antes que a nossa festa aqui se finde,
Doutor Agamenon, receba o brinde
Que à Dona Antonieta estou erguendo!"

Seguindo a etiqueta, Zé Limeira acompanhou:

"Eu cantando pra Dona Antonieta
A muié do Doutor Agamenon,
Fico como o Reis Magro do Sion,
Me coçando na mesma tabuleta.
Eu aqui vou rasgando a caderneta
De Otacílio Batista Patriota...
Doutor, como eu não tenho um brinde em nota,
Que possa oferecer à sua esposa.
Dou-lhe um quilo de merda de raposa
Numa casca de cana piojota."

A cacimba

A cacimba
(Zé da Luz)
Nessa poesia, a irreverência é o grande marco de Zé da Luz...

Tá vendo aquela cacimba
lá na bêra do riacho
im riba da ribanceira
qui fica assim pru dibáxo
de um pé de tamarinêra.

Pois um magote de moça
quage toda manhanzinha
forma assim aquela tuia
na bêra da cacimbinha
prá tumar banho de cuia.

Eu não sei pruquê razão
as águas dessa nacente,
as águas que ali se vê,
tem um gosto diferente
das cacimbas de bêbê...

As águas da cacimbinha
tem um gôsto mais mió
Nem sargada, nem insôça
Tem um gostim do suó
do suvaco dessas môça...

Quando eu vejo essa cacimba
qui inspio a minha cara
e a cara torno a inspiá,
naquelas águas quiláras,
Pego logo a desejá...

...Desejo, prá quê negá?
Desejo ser um caçote
cum dois óio dêsse tamanho
Prá ver aquele magote
de môça tumando banho!

Moça rica (Zé laurentino)

...e a terra caiu no chão!

...E a terra caiu no chão!
(Zé da Luz)

Uma joia rara desse grande poeta de Itabaiana - PB.

Visitando o meu sertão
que tanta grandeza encerra,
trouxe um punhado de terra
com a maior satisfação

Fiz isso na intenção
Como fez Pedro Segundo
de quando eu deixasse o mundo
levá-lo no meu caixão.

Chegando ao Rio, pensei
guardá-lo só para mim
e num saquinho de brim
essa relíquia encerrei!

Com carinho e com cuidado
numa ripa do telhado
o saquinho pendurei...

Uma doença apanhei
e vendo bem próxima a morte
lembrando as terras do norte
do saquinho me lembrei.

Que cruel desilusão!
As traças, sem coração
meterem os dentes no saco
fizeram um grande buraco
e a terra caiu no chão.

As flô de puxinanã

As flô de Puxinanã
(Zé da Luz)


Três mulé ou três irmã
três cachorra da mulesta
Que eu vi num dia de festa
no lugar puxinanã

A mais veia, a mais ribusta,
era mermo uma tentação
Mimosa flor do Sertão
que o povo chamava Augusta

A segunda é Guilhermina
tinha os oios que oh! maldição
Matava qualquer cristão
o oiá dessa menina

Os oios dela parecia
duas estrela tremendo
se apagando e se acendendo
em noite de ventania

A terceira era Maroca
com o corpo muito má feito
mas porém tinha nos peito
dois cuscuz de mandioca

Dois cuscuz que por capricho
quando passaram por eu
minha venta se acendeu
com o cheiro vindo dos bicho

Eu até me embaraçava
no lugar Puxinanã
sem saber das três irmã
qual era a que eu me agradava

Carregando a minha cruz
pra sair desse embaraço
preferi morrer nos braços
da dona dos dois cuscuz.